Análise genética de problemas craniofaciais – revisão da literatura e diretrizes para investigações clínico-laboratoriais
Ricardo Machado CruzI; Silviene Fabiana de Oliveira
“cada vez mais se descobre que os genes têm papel fundamental na etiologia dos problemas craniofaciais, no entanto, o conhecimento das bases da genética humana ainda está muito distante da prática diária do cirurgião-dentista clínico.”
“Desde os mais remotos tempos o homem busca resposta para duas perguntas centrais: quem somos e de onde viemos. Em teoria, conhecer a seqüência do genoma nuclear humano e seu funcionamento pode auxiliar na elucidação desses questionamentos.”
“Os genes são regiões genômicas relacionadas, dentre outras funções, com a síntese de produtos protéicos. A região cromossômica onde se localiza um dado gene define um locus gênico, sendo que um conjunto de locus é denominado loci gênicos2. As enzimas, por exemplo, podem ser produtos diretos da ação gênica.”
“Apesar das dificuldades, progressos na área têm permitido estimar que alterações herdadas em nossos genes sejam responsáveis por cerca de 3.000 a 4.000 distúrbios. Dentre essas estão doenças como anemia falciforme, fibrose cística, neurofibromatose, doença de Huntington e distrofia muscular de Duchenne, de interesse médico; e outras, como Treacher-Collins, microssomia hemifacial, disostose cleidocraniana, prognatismo mandibular e diversas formas de anodontia, que também interessam ao profissional de Odontologia.”
“Dentre essas variações estão os marcadores genéticos moleculares, muito utilizados na busca do locus ou dos loci gênicos relacionados a características de interesse. Marcadores genéticos podem ser definidos, então, como regiões do genoma (seqüências de DNA) compostas de duas partes: uma não variável, suficientemente específica para ajudar a localizar o locus no genoma; e um componente variável, suficientemente heterogêneo para identificar diferenças entre indivíduos e até entre cromossomos homólogos no mesmo indivíduo2.”
“A abordagem de um determinado problema a ser estudado deve iniciar com uma epidemiologia descritiva daquela característica. Nessa etapa, as variações quanto à origem/ascendência geográfica (denominada comumente como grupo étnico e/ou raça), classe social, idade e gênero podem fornecer pistas do envolvimento de fatores genéticos e/ou ambientais no desenvolvimento do fenótipo.”
“Buscando auxiliar na determinação da presença de um ou mais genes principais dentro das famílias, que possam explicar toda ou parte da agregação familiar da característica de interesse observada, utiliza-se o que é denominado de análise de segregação2, que é, em linhas gerais, a avaliação do padrão de distribuição do fenótipo em famílias. Estudos familiares baseados em casos de ocorrência do fenótipo em uma determinada população ou em famílias que compartilhem ambiente são geralmente usados para esse propósito.”
“A análise de ligação gênica é uma estratégia para tentar encontrar a localização cromossômica de um ou mais genes responsáveis pelo fenótipo estudado. O objetivo dessa estratégia é a busca de co-segregação entre marcadores genéticos moleculares e o fenótipo de interesse em famílias que tenham indivíduos afetados.”
“Em um dos trabalhos clássicos e mais conhecidos a respeito do crescimento e desenvolvimento craniofacial, Moss14, em 1975, sugeriu que não havia determinação genética direta para a morfogênese esquelética: o fenótipo seria determinado somente através das matrizes funcionais.”
“Os desafios para os tratamentos clínicos dos problemas craniofaciais são muitos: diagnósticos precisos, previsões de crescimento, efetividade nos tratamentos, estabilidade nos resultados dos tratamentos e, em muitos casos, aconselhamentos genéticos. O sucesso para gerenciar tamanhos desafios depende da compreensão dos mecanismos genéticos básicos do crescimento e desenvolvimento craniofacial.”
“Ainda falta muito para que os mecanismos genéticos que envolvem o desenvolvimento dos distúrbios no processo craniofacial sejam totalmente esclarecidos, mas é fundamental que o cirurgião-dentista comece a se familiarizar com a nomenclatura específica da área e conheça os conceitos e princípios gerais que norteiam as novas técnicas laboratoriais de análises genéticas.”
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